depois do banho quente
toma a cigarra
a duchagelo.
decidi acabar com esse blogzinho, por enquanto. 50 posts, felicidade.
continuo em otro.tiago no gemail e tal.
:)
sábado, 2 de outubro de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
terça-feira, 10 de agosto de 2010
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
sexta-feira, 16 de julho de 2010
quinta-feira, 24 de junho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
lembro que desde que me tenho por gente
lembro que desde que me tenho por gente procuro mensurar o futuro. explico: hoje percebi o quanto me incomoda não saber quanto tempo a água colocada no compartimento superior do filtro de barro demora para chegar, aos pingos, no compartimento inferior e que, superado o limite mínimo, passe a ser disponibilizada através do dosador de rotação; ou seja, em quanto tempo eu vou poder beber boa água, pura e limpa.
voltemos para o meio dos anos 90, quando química, física, biologia, geologia, astronomia e horologia chamava, simplesmente, ciências naturais. eu lembro de ter tido aula disso, e também lembro do livro utilizado para (era meio laranja, com uma foto de um rio, umas árvores, e umas pessoas desenhadas). mas não lembro de nada que supostamente eu aprendi (erosão de solo, ciclo da água, fases da lua, ummileum de coisas que talvez hoje me façam falta). apesar disso, lembro de um exercício proposto pelo livro. falando sobre metologia científica (?!?!?!), ele pedia para examinar o enferrujamento de um bombril, durante uma semana. mas deixava claro: o rigor científico exigia que, ao lado do bombril mergulhado em água, repousasse outro seco, o mais igual possível (?!?!?!), pois um caminho só pode ser conhecido como diferente se se souber qual era o outro possível (talvez o meu livro de ciências naturais tenha sido escrito pelo Deleuze).
enfim, um último exemplo da minha impaciência futurística: um professor de química, já nos anos 2000, mostrava como a borracha voava quando ele dava um peteleco com o indicador direito (?!?!?!?). eu perguntei - mas professor, se eu fornecer as exatas mesmas condições de peteleco, que incluem força e local de petequelagem, vento, temperatura e pressão atmosféricas (?!?!?!?!), o vôo da borracha (ok, você já entendeu a estrutura) vai ser idêntico.
talvez até hoje eu procure por condições ideais, sobre as quais seja possível, somente em meus sonhos de criança, é verdade, fazer previsões. e talvez isso ainda me deixe triste. mas triste como uma criança que sorri tão logo veja um sorvetão de morango pela frente.
voltemos para o meio dos anos 90, quando química, física, biologia, geologia, astronomia e horologia chamava, simplesmente, ciências naturais. eu lembro de ter tido aula disso, e também lembro do livro utilizado para (era meio laranja, com uma foto de um rio, umas árvores, e umas pessoas desenhadas). mas não lembro de nada que supostamente eu aprendi (erosão de solo, ciclo da água, fases da lua, ummileum de coisas que talvez hoje me façam falta). apesar disso, lembro de um exercício proposto pelo livro. falando sobre metologia científica (?!?!?!), ele pedia para examinar o enferrujamento de um bombril, durante uma semana. mas deixava claro: o rigor científico exigia que, ao lado do bombril mergulhado em água, repousasse outro seco, o mais igual possível (?!?!?!), pois um caminho só pode ser conhecido como diferente se se souber qual era o outro possível (talvez o meu livro de ciências naturais tenha sido escrito pelo Deleuze).
enfim, um último exemplo da minha impaciência futurística: um professor de química, já nos anos 2000, mostrava como a borracha voava quando ele dava um peteleco com o indicador direito (?!?!?!?). eu perguntei - mas professor, se eu fornecer as exatas mesmas condições de peteleco, que incluem força e local de petequelagem, vento, temperatura e pressão atmosféricas (?!?!?!?!), o vôo da borracha (ok, você já entendeu a estrutura) vai ser idêntico.
talvez até hoje eu procure por condições ideais, sobre as quais seja possível, somente em meus sonhos de criança, é verdade, fazer previsões. e talvez isso ainda me deixe triste. mas triste como uma criança que sorri tão logo veja um sorvetão de morango pela frente.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Eu gostaria de ser
Eu gostaria de ser encanador. E disso não se trata de entrar em canos, usar macacões ou consertar chuveiros quebrados. Antes: ser convidado a entrar numa casa estranha e, ali, conhecer seus interiores, seus pordebaixos, suas intimidades.
Nenhum amigo uma vez me chamou para conhecer seu banheiro, como se portam sua pia e seu ralo, quais os problemas que enfrenta todas as vezes que lava roupa, ou os choques que leva ao abrir o registro do chuveiro. Quais lâmpadas queimam mais, ou onde há goteiras. Enfim, nenhuma casa nunca me foi apresentada, e isso me faz parecer traído.
Claro, também nunca a fiz (a apresentação baixia) a convidados. Nunca mostrei os relevos do azulejo cujo desenho (presumi desda infancia) eram de jovens trigos, os cabelos que se juntam aos montes no chão, as unhas cortadas perdidas nos cantos das paredes.
Eu gostaria de ser encanador, ou então aranha, lagartixa, mosquito. Esses sim, têm direito de adentrar os covis, de ali ter mais casa que eu mesmo, de ali chamar lar. Mas eles também nunca me apresentaram seus pertences, seus relevos, suas poeiras.
--
Exercicio. 2.
Ao comentar o post acima, descreva, anonimamente, suas externidades que lhe caem mais internamente.
Não:
1... Limpar o inlimpável.
2... ignorar as larvas negras que nadam nas poças dágua.
3... Esquecer de falar da sua esponja do Bob Esponja.
4... Esquecer o quão suja está essa esponja.
nn... Esperar por respostas, já que a descrições, .
Nenhum amigo uma vez me chamou para conhecer seu banheiro, como se portam sua pia e seu ralo, quais os problemas que enfrenta todas as vezes que lava roupa, ou os choques que leva ao abrir o registro do chuveiro. Quais lâmpadas queimam mais, ou onde há goteiras. Enfim, nenhuma casa nunca me foi apresentada, e isso me faz parecer traído.
Claro, também nunca a fiz (a apresentação baixia) a convidados. Nunca mostrei os relevos do azulejo cujo desenho (presumi desda infancia) eram de jovens trigos, os cabelos que se juntam aos montes no chão, as unhas cortadas perdidas nos cantos das paredes.
Eu gostaria de ser encanador, ou então aranha, lagartixa, mosquito. Esses sim, têm direito de adentrar os covis, de ali ter mais casa que eu mesmo, de ali chamar lar. Mas eles também nunca me apresentaram seus pertences, seus relevos, suas poeiras.
--
Exercicio. 2.
Ao comentar o post acima, descreva, anonimamente, suas externidades que lhe caem mais internamente.
Não:
1... Limpar o inlimpável.
2... ignorar as larvas negras que nadam nas poças dágua.
3... Esquecer de falar da sua esponja do Bob Esponja.
4... Esquecer o quão suja está essa esponja.
nn... Esperar por respostas, já que a descrições, .
sábado, 15 de maio de 2010
Lascia ch'io pianga
Lascia ch'io pianga
mia chuda sorte,
e che sospiri
la libertà.
Il duol infranga
queste ritorte
de' miei martiri
sol per pietà!
mia chuda sorte,
e che sospiri
la libertà.
Il duol infranga
queste ritorte
de' miei martiri
sol per pietà!
sábado, 8 de maio de 2010
"quero uma casa com
"quero uma casa com quatro quartos bem
mobiliados
com vista para o mar onde eu possa dormir
sozinha"
(ricardo miyada)
mobiliados
com vista para o mar onde eu possa dormir
sozinha"
(ricardo miyada)
terça-feira, 4 de maio de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
A complexidade da vida (e de
A complexidade da vida (e de todas as contáveis coisas que nela há) se explica: olha-se para o pé de amora e vê-se bons pontos negros de pura felicidade; circunda-se a amoreira para pegá-los como que de surpresa, como um leopardo que persegue amoras, digo, lebres, sem que queira ser percebido, e que cai no fundo fosso que fora cuidadosamente transpassado pela astuta lebre: as amoras, desse outro lado do mundo (o mundo de trás) não existem mais; voltando ao ponto de partida, sem que importe por qual lado da árvore decide-se voltar, vê-se logo que elas estão todas lá, nos mesmos lugares; engana-se o leopardo que pensa: se trata de ilusão de óptica, as amoras não saem do lugar. Saem sim.
sábado, 17 de abril de 2010
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Como cresceu. Ontem mesmo (faz dois
Como cresceu. Ontem mesmo (faz dois anos) eu passei por ali e era só um muro em crescimento. Algumas semanas depois, ele já dava sinal de que não cresceria mais. E não cresceu mesmo. Mas hoje, reparei que, sob os altos muros que não crescem mais, cresceram as copas das árvores, que de tão grandes, assustam de não terem sido percebidas quando não havia muro. Elas se despejam sob os altos dos muros e caem sob a estrada, causando uma boa sombra para os motoristas a cem quilômetros por hora.
E me assusta não ter visto seu crescimento. Passo ali toda semana, toda semana a cem por hora, e hoje não foi diferente. Mas hoje, aconteceu algo diferente: naquela estradinha onde não há radares eletrônicos e nunca havia-se notado radares móveis, vi um desses últimos escondidos sob o guardirreio, silencioso, preciso. Minha velocidade era de cem por hora (antes que me multem por falso testemunho), mas mesmo assim brequei, e segui o resto dos seus dez quilômetros em procura de outros possíveis pontos de desfatura, atento ao que se passava. Não os encontrei; porém, trombei com as altas árvores.
Me parece que é assim que se deve bem viver: a procura de radares. Digo, decorar os pontos de radares fixos e os possíveis pontos de radares móveis pode ser útil e quase prático, mas não lhe deixa ver que as árvores crescem sob os muros.
Levar a vida sem que se saiba que há mudanças é como ouvir Chopin com todas suas cadências de cor (de coração), como ler Camões tendo conhecimento de todas suas rimas, como olhar Picasso sabendo onde e como ali está circunscrito (desenhado) um violão.
Agora entendo e critico a questão da obra de arte do século passado. O público já passou a prever muito, então começaram as atonalidade, as poesias sem rima, os quadros abstratos. Ninguém percebeu que não era aí que estava o problema, não na coisa em si, mas antes, no leitor.
Há de se fazer músicas onde o ouvinte se encontre sempre novo, como ontem; há de se fazer quadros onde o visor tenha olhos de criança; há de se fazer um livro em que o leitor seja de novo bebê e analfabeto.
Quando Manoel de Barros fala em Desaprender oito horas por dia, ele não diz em apagar, mas antes, em se surpreender.
Reescrevo:
Se surpreender oito horas por dia ensina princípios.
E me assusta não ter visto seu crescimento. Passo ali toda semana, toda semana a cem por hora, e hoje não foi diferente. Mas hoje, aconteceu algo diferente: naquela estradinha onde não há radares eletrônicos e nunca havia-se notado radares móveis, vi um desses últimos escondidos sob o guardirreio, silencioso, preciso. Minha velocidade era de cem por hora (antes que me multem por falso testemunho), mas mesmo assim brequei, e segui o resto dos seus dez quilômetros em procura de outros possíveis pontos de desfatura, atento ao que se passava. Não os encontrei; porém, trombei com as altas árvores.
Me parece que é assim que se deve bem viver: a procura de radares. Digo, decorar os pontos de radares fixos e os possíveis pontos de radares móveis pode ser útil e quase prático, mas não lhe deixa ver que as árvores crescem sob os muros.
Levar a vida sem que se saiba que há mudanças é como ouvir Chopin com todas suas cadências de cor (de coração), como ler Camões tendo conhecimento de todas suas rimas, como olhar Picasso sabendo onde e como ali está circunscrito (desenhado) um violão.
Agora entendo e critico a questão da obra de arte do século passado. O público já passou a prever muito, então começaram as atonalidade, as poesias sem rima, os quadros abstratos. Ninguém percebeu que não era aí que estava o problema, não na coisa em si, mas antes, no leitor.
Há de se fazer músicas onde o ouvinte se encontre sempre novo, como ontem; há de se fazer quadros onde o visor tenha olhos de criança; há de se fazer um livro em que o leitor seja de novo bebê e analfabeto.
Quando Manoel de Barros fala em Desaprender oito horas por dia, ele não diz em apagar, mas antes, em se surpreender.
Reescrevo:
Se surpreender oito horas por dia ensina princípios.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Bom dia é quando
Bom dia é quando a gente chega em casa e nem sabe como foi mesmo que saiu (e, no caso, nem de como chegou, se a farmácia estava aberta, ou se aquele cara que te olhou feio queria mesmo te assaltar).
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Você fala demais. Você
Você fala demais. Você pensa demais.
Pensar demais se trata de falar consigo mesmo. Mesmo quando se deve ter silêncio. Mesmo quando não há nada a ser dito. Você repete, e reitera, e adiciona condições e sinequanons. Todo aquele papo de que na história não existe o condicional Se em ti não funciona, e assim continua a se perguntar como poderia ter sido. Como deveria ter sido. Como você queria mesmo?
Você espera demais. E a resposta nunca vem porque você nem perguntou. E sequer ficou em silêncio. Você disse, mas não perguntou nada. Você descreveu, e é preciso muita intimidade para que se responda a uma descrição ("Aquela cadeira é azul", )
Você anda e suas bocas falam mais que suas pernas. Por mais que corra, isso se mantêm. E se seu cérebro não fala mais que sua boca, dá graças a deus. Senão, sairiam palavras pela sua orelha, nariz, olhos. Você seria tudo descrição.
Você escreve demais. E mesmo que não descreva, também não diz nada. E pergunta com pergunta dos outros, Isto te basta?
--
Post número 33. Sendo este o meu número favorito. Sendo este o número de minutos passado das duas em quando eu mandei uma mensagem sms.
Se deus não tivesse feito o mundo em sete dias, teria sido em 33.
--
Pensar demais se trata de falar consigo mesmo. Mesmo quando se deve ter silêncio. Mesmo quando não há nada a ser dito. Você repete, e reitera, e adiciona condições e sinequanons. Todo aquele papo de que na história não existe o condicional Se em ti não funciona, e assim continua a se perguntar como poderia ter sido. Como deveria ter sido. Como você queria mesmo?
Você espera demais. E a resposta nunca vem porque você nem perguntou. E sequer ficou em silêncio. Você disse, mas não perguntou nada. Você descreveu, e é preciso muita intimidade para que se responda a uma descrição ("Aquela cadeira é azul", )
Você anda e suas bocas falam mais que suas pernas. Por mais que corra, isso se mantêm. E se seu cérebro não fala mais que sua boca, dá graças a deus. Senão, sairiam palavras pela sua orelha, nariz, olhos. Você seria tudo descrição.
Você escreve demais. E mesmo que não descreva, também não diz nada. E pergunta com pergunta dos outros, Isto te basta?
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Post número 33. Sendo este o meu número favorito. Sendo este o número de minutos passado das duas em quando eu mandei uma mensagem sms.
Se deus não tivesse feito o mundo em sete dias, teria sido em 33.
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sábado, 27 de março de 2010
Desde tenra idade, ela
Desde tenra idade, ela julgava que a humanidade havia perdido a capacidade de, verdadeiramente, se expressar com a linguagem das palavras. Não era porém um processo de novalíngua, como em Orwell, e nem havia um grande irmão por detrás: era, simplesmente, algo mais complexo e cruel.
Em algum ponto da história, a palavra cadeira passou a significar apenas, e esse era o ponto, a ilustração do objeto desejado, e nada mais. O malabarismo de palavras, que alguns já chamavam poesia, tinha então seu fim declarado, pois lhe era indispensável que a palavra cadeira então pudesse ter umas dezenas de significados. Poderia, então, ser confundida, por exemplo, com o objeto colmeia, ou então com o sentimento da dor (num manuscrito antigo, e isso somente ela sabia, lia-se "Tire alguém a cadeira de minhas costas, pois passam os anos e sou agora infeliz").
Mas, dadas as circunstâncias, ela se dera o papel de cruzada da linguagem. Todos os dias, tão logo acordada, tinha em mãos seu caderno de capa dourada, cujo número de páginas beirava o infinito, e ali escrevia repetidamente uma única palavra, à exaustão, até que suas bordas semânticas começassem a desfocar. Foi assim, por exemplo, que descobriu na palavra chaminé a capacidade de significar centro e trinta e duas coisassentimentosações diferentes.
O problema foi que, depois de seis anos dessa prática, ela percebeu que isso não bastaria. De fato, sua língua materna não bastaria, bem como não bastariam as outras seis línguas que aprendeu em seus diálogos silenciosos, durante a execução dos mesmos seis anos.
Tal descoberta foi sentida e ela sofreu de uma intensa misantropia por tantos dias quantas páginas brancas sobravam em seu caderno. Trancada em sua torre, se pôs a procurar nas línguas inexistentes a real possibilidade da comunicação, mesmo que o ouvinte não passasse de sua própria sombra. Não sabia sequer se ela entendia suas profetizações, se entre ela e a sombra havia um código comum, ou se insistia em ficar aos seus pés por puro respeito e devoção ao que de si havia de mais real.
Porém, o processo de análise combinatória levado a cabo nos primeiros anos logo mostrou-se infrutífero. Existia entre as letras, e isso somente ela notara, uma certa força de atração que fazia com que certas letras fossem bem sucedidas por umas e não por outras. Tal constatação a fez concluir a verdade última: existe uma palavra, uma tal ordenação de certas letras, cuja tamanha é a harmonia entre suas forças formantes, e cuja tamanha é sua gravidade interior, que seu significado extrapola o mundo. A sua simples pronúncia por uma boca mortal faria os mares se abrirem, os céus baixarem à terra e a chuva desabar por mais de seis meses (estava portando comprovada a sua existência frente aos livros santos dos deuses).
Consumida por essa busca infinita, hoje ela habita junto a mim. Seus olhos carregam o peso do tempo e seus cabelos reluzem a eternidade. Passa seus dias na velha cadeira de balanço em frente a janela, fitando o céu. No começo, considerei que esperava que ali, em meio as nuvens, surgissem as letras da palavra querida. Depois, realizei que apenas lhe sorriam as suas formas de algodão e era só.
A cada seis anos, percebo-a consternada, o velho caderno a mão, as páginas puramente brancas. Isso lhe dói, e sempre me parece que ela não resistirá, que sua pena tombará ao chão, enquanto o caderno, carrasco, permanecerá para sempre aberto, imaculado, como um sinal derradeiro de sua busca infinita, a qual tanto desgastara sua eternidade.
Mas depois, quando ela finalmente adormece, vejo-a deitada em brancos linhos e então percebo que, se sua pesquisa fora inútil, não o fora por ser infinita, mas antes, pelo contrário: era finita, e seu fim se sobrepunha ao seu próprio início. Quando sonhava podia, então, ser feliz.
Em algum ponto da história, a palavra cadeira passou a significar apenas, e esse era o ponto, a ilustração do objeto desejado, e nada mais. O malabarismo de palavras, que alguns já chamavam poesia, tinha então seu fim declarado, pois lhe era indispensável que a palavra cadeira então pudesse ter umas dezenas de significados. Poderia, então, ser confundida, por exemplo, com o objeto colmeia, ou então com o sentimento da dor (num manuscrito antigo, e isso somente ela sabia, lia-se "Tire alguém a cadeira de minhas costas, pois passam os anos e sou agora infeliz").
Mas, dadas as circunstâncias, ela se dera o papel de cruzada da linguagem. Todos os dias, tão logo acordada, tinha em mãos seu caderno de capa dourada, cujo número de páginas beirava o infinito, e ali escrevia repetidamente uma única palavra, à exaustão, até que suas bordas semânticas começassem a desfocar. Foi assim, por exemplo, que descobriu na palavra chaminé a capacidade de significar centro e trinta e duas coisassentimentosações diferentes.
O problema foi que, depois de seis anos dessa prática, ela percebeu que isso não bastaria. De fato, sua língua materna não bastaria, bem como não bastariam as outras seis línguas que aprendeu em seus diálogos silenciosos, durante a execução dos mesmos seis anos.
Tal descoberta foi sentida e ela sofreu de uma intensa misantropia por tantos dias quantas páginas brancas sobravam em seu caderno. Trancada em sua torre, se pôs a procurar nas línguas inexistentes a real possibilidade da comunicação, mesmo que o ouvinte não passasse de sua própria sombra. Não sabia sequer se ela entendia suas profetizações, se entre ela e a sombra havia um código comum, ou se insistia em ficar aos seus pés por puro respeito e devoção ao que de si havia de mais real.
Porém, o processo de análise combinatória levado a cabo nos primeiros anos logo mostrou-se infrutífero. Existia entre as letras, e isso somente ela notara, uma certa força de atração que fazia com que certas letras fossem bem sucedidas por umas e não por outras. Tal constatação a fez concluir a verdade última: existe uma palavra, uma tal ordenação de certas letras, cuja tamanha é a harmonia entre suas forças formantes, e cuja tamanha é sua gravidade interior, que seu significado extrapola o mundo. A sua simples pronúncia por uma boca mortal faria os mares se abrirem, os céus baixarem à terra e a chuva desabar por mais de seis meses (estava portando comprovada a sua existência frente aos livros santos dos deuses).
Consumida por essa busca infinita, hoje ela habita junto a mim. Seus olhos carregam o peso do tempo e seus cabelos reluzem a eternidade. Passa seus dias na velha cadeira de balanço em frente a janela, fitando o céu. No começo, considerei que esperava que ali, em meio as nuvens, surgissem as letras da palavra querida. Depois, realizei que apenas lhe sorriam as suas formas de algodão e era só.
A cada seis anos, percebo-a consternada, o velho caderno a mão, as páginas puramente brancas. Isso lhe dói, e sempre me parece que ela não resistirá, que sua pena tombará ao chão, enquanto o caderno, carrasco, permanecerá para sempre aberto, imaculado, como um sinal derradeiro de sua busca infinita, a qual tanto desgastara sua eternidade.
Mas depois, quando ela finalmente adormece, vejo-a deitada em brancos linhos e então percebo que, se sua pesquisa fora inútil, não o fora por ser infinita, mas antes, pelo contrário: era finita, e seu fim se sobrepunha ao seu próprio início. Quando sonhava podia, então, ser feliz.
terça-feira, 23 de março de 2010
:) -- Sempre que viajo
:)
--
Sempre que viajo, ou melhor, sempre que volto de viagem, vejo que as coisas que ficaram para trás, supostamente imóveis, já não se encontram como antes, em caráter ou espaço. Foi assim que dei conta dos pequenos gnomos que habitam sob nossos tetos, e que alguns insistem em chamar de passar do tempo.
Eles estão por toda parte, e agem sobre tudo. Agora mesmo, um deles está sentado ao meu lado e, com seu delicado pincel de poeira, pinta o tapete amarelo de insígnias árabes. Para ele, não se trata de uma função, um trabalho dado, mas antes de uma (boa) condição adquirida desde os primórdios do surgimento. Com mesmo esmero que minha avó lavara o tapete, ele o pinta, fazendo com que, daqui dias, minha vó terá que novamente lavá-lo. E assim num processo cíclico. (É aí que se prova sua existência e grau de importância em toda a história (cíclica) do homem).
Descobri também que não são com os olhos vistos (ou, ao menos, não somente). Lembro de, na infância, é verdade, ter reparado com os olhos o árduo trabalho de seis deles, que acometiam pequenas danas aos bolachões do legião urbana e do lulu santos que eu, em jogo, arrastava pelo chão de cimento queimado da casa do 913. Do mais, sei que suas presenças podem ser sentidas e é isso. Quando fecho os olhos, deitado em minha cama, sei que um deles logo se porá a minha frente e me contará histórias de um tempo tão mágico (passado?) que adormeço longamente (e entenda: não os ouço com os ouvidos, mas antes).
Porém, antes que duvide de suas boas intenções, digo logo que são males que vêm para o bem. É graças a eles que todas as coisas que há no mundo têm história. Sim, sei que nos é óbvio que, se tudo permanecesse em sua condição in illo tempore, não haveria livros de contos, marcas no sofá da sala, ferrugem em minha janela, cabelos que crescem mais nas luas cheias (quando, é sabido, tais gnomos trabalham mais). Mas aqui faço a defesa de sua condição sinequanon em nosso mundo.
--
Lembro de minha mãe. Na mesma casa de cimento queimado, tínhamos, sobre a estante, um pequeno gnomo de calças verdes e camisa amarela. Seu chapéu, pontiagudo, era laranja, e restava sobre suas orelhas, roseadas. Sempre sorria. E sempre, também, tinha ao seu lado uma vermelha maçã .
- Tata, era assim que chamava (chamo) minha mãe, porque a maçã fica ali?
- É para os gnomos, Tiago.
- Ah tá.
E assim, passava meus dias reparando como a maçã era engolida, pouco a pouco, pelos gnomos. E então a escola me ensinou que os alimentos sofrem com o tempo, deteriorações químicas e que até o tetrapack não é para sempre. E isso é agora algo que eu desaprendo, ao que percebo que minha infância era muito mais sabida (verdadeira) que os livros da academia defendidos pela gorda professora, que, sentada em cima de seis outros gnomos, tinha sua bundona esburacada por eles.
- Não fale assim de minhas nádegas, moleque. Sou uma mulher de idade e o tempo passa.
- O tempo passa professora.
O tempo passa.
--
Sempre que viajo, ou melhor, sempre que volto de viagem, vejo que as coisas que ficaram para trás, supostamente imóveis, já não se encontram como antes, em caráter ou espaço. Foi assim que dei conta dos pequenos gnomos que habitam sob nossos tetos, e que alguns insistem em chamar de passar do tempo.
Eles estão por toda parte, e agem sobre tudo. Agora mesmo, um deles está sentado ao meu lado e, com seu delicado pincel de poeira, pinta o tapete amarelo de insígnias árabes. Para ele, não se trata de uma função, um trabalho dado, mas antes de uma (boa) condição adquirida desde os primórdios do surgimento. Com mesmo esmero que minha avó lavara o tapete, ele o pinta, fazendo com que, daqui dias, minha vó terá que novamente lavá-lo. E assim num processo cíclico. (É aí que se prova sua existência e grau de importância em toda a história (cíclica) do homem).
Descobri também que não são com os olhos vistos (ou, ao menos, não somente). Lembro de, na infância, é verdade, ter reparado com os olhos o árduo trabalho de seis deles, que acometiam pequenas danas aos bolachões do legião urbana e do lulu santos que eu, em jogo, arrastava pelo chão de cimento queimado da casa do 913. Do mais, sei que suas presenças podem ser sentidas e é isso. Quando fecho os olhos, deitado em minha cama, sei que um deles logo se porá a minha frente e me contará histórias de um tempo tão mágico (passado?) que adormeço longamente (e entenda: não os ouço com os ouvidos, mas antes).
Porém, antes que duvide de suas boas intenções, digo logo que são males que vêm para o bem. É graças a eles que todas as coisas que há no mundo têm história. Sim, sei que nos é óbvio que, se tudo permanecesse em sua condição in illo tempore, não haveria livros de contos, marcas no sofá da sala, ferrugem em minha janela, cabelos que crescem mais nas luas cheias (quando, é sabido, tais gnomos trabalham mais). Mas aqui faço a defesa de sua condição sinequanon em nosso mundo.
--
Lembro de minha mãe. Na mesma casa de cimento queimado, tínhamos, sobre a estante, um pequeno gnomo de calças verdes e camisa amarela. Seu chapéu, pontiagudo, era laranja, e restava sobre suas orelhas, roseadas. Sempre sorria. E sempre, também, tinha ao seu lado uma vermelha maçã .
- Tata, era assim que chamava (chamo) minha mãe, porque a maçã fica ali?
- É para os gnomos, Tiago.
- Ah tá.
E assim, passava meus dias reparando como a maçã era engolida, pouco a pouco, pelos gnomos. E então a escola me ensinou que os alimentos sofrem com o tempo, deteriorações químicas e que até o tetrapack não é para sempre. E isso é agora algo que eu desaprendo, ao que percebo que minha infância era muito mais sabida (verdadeira) que os livros da academia defendidos pela gorda professora, que, sentada em cima de seis outros gnomos, tinha sua bundona esburacada por eles.
- Não fale assim de minhas nádegas, moleque. Sou uma mulher de idade e o tempo passa.
- O tempo passa professora.
O tempo passa.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Encontrado no dicionário: português > inglês.
*
Adicionar estrela
Remover estrela consolo
o
noun
+
consolation ouvir
+
console
+
solace ouvir
+
relief ouvir
+
assuagement ouvir
+
convenience ouvir
+
comfort ouvir
+
corbel ouvir
+
bracket ouvir
+
cantilena ouvir
Definições da web
* o Dildo é um objeto em formato que imita um pênis com o intuito de ser usado para provocar estímulos sexuais através do contato, fantasia ou ...
pt.wikipedia.org/wiki/Consolo
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*
Adicionar estrela
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o
noun
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consolation ouvir
+
console
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solace ouvir
+
relief ouvir
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+
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comfort ouvir
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corbel ouvir
+
bracket ouvir
+
cantilena ouvir
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* o Dildo é um objeto em formato que imita um pênis com o intuito de ser usado para provocar estímulos sexuais através do contato, fantasia ou ...
pt.wikipedia.org/wiki/Consolo
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
you re in stockholm and, of course
you re in stockholm and, of course, you speak no swedish. end of the world? not exatly, cause everybody (i mean everybody indeed) speaks english. but there s still a magic way to approach to situations.
you cannot speak swedish, but you ve learned somehow two little words: tack and hej. so that you discover that those words are enough for a simple life in this nice country of scandinavia. below, we present you some parts of "meaning 100 differents things with two words".
1. ok, you re arrived to sweden and you just wanna go hostel, not spending time with the visa guys. So you look at theiers eyes and say, with conviction, Hej! Voila, now you can go.
7. shopping it s not a simple deal to do abroad. it always involkes numbers, cards, credit cards, money exchange. but you can go just thru it all with the little words. you get to the cash and smile to the beautiful girl. say a convincent Hej. she might then tell you something complicated, maybe about a new product in REA! but don t miss the control of situation, only keep smiling, give her the credit card, put the code and when everything rules, look at her and say Tack. very well done.
53. having problems with police it s not something you really want, for sure. so that s good to say a long Hej everytime you meet them: this little act will show them in with side you are, and you are not going to show them your s darth vaders side. not now; please.
66. charming people in the streets, why not? but here also it s possible to use the two little words. for exemple; you re crossing the street and the hottie is passing by. just throw a little Hej, like as you were cleaning your throat. it she likes you; she ll stop in the middle of the path, say you stop, run to yours arms and give you a huge kiss (this is the part of the movie when it starts to snow and the good love song takes place)
67. but you can also only do a little use of the words to charm. you are entering the concert hall and she holds the door for you. (but you know she would do that for anyone, ok?)... say a fake-spontaneous Ohhh Tack!. that s all needed to the moment. then, in the interval you ll be able to talk to her, in english, because you have already showed how a good swedish-two-words-speaker you are!
you cannot speak swedish, but you ve learned somehow two little words: tack and hej. so that you discover that those words are enough for a simple life in this nice country of scandinavia. below, we present you some parts of "meaning 100 differents things with two words".
1. ok, you re arrived to sweden and you just wanna go hostel, not spending time with the visa guys. So you look at theiers eyes and say, with conviction, Hej! Voila, now you can go.
7. shopping it s not a simple deal to do abroad. it always involkes numbers, cards, credit cards, money exchange. but you can go just thru it all with the little words. you get to the cash and smile to the beautiful girl. say a convincent Hej. she might then tell you something complicated, maybe about a new product in REA! but don t miss the control of situation, only keep smiling, give her the credit card, put the code and when everything rules, look at her and say Tack. very well done.
53. having problems with police it s not something you really want, for sure. so that s good to say a long Hej everytime you meet them: this little act will show them in with side you are, and you are not going to show them your s darth vaders side. not now; please.
66. charming people in the streets, why not? but here also it s possible to use the two little words. for exemple; you re crossing the street and the hottie is passing by. just throw a little Hej, like as you were cleaning your throat. it she likes you; she ll stop in the middle of the path, say you stop, run to yours arms and give you a huge kiss (this is the part of the movie when it starts to snow and the good love song takes place)
67. but you can also only do a little use of the words to charm. you are entering the concert hall and she holds the door for you. (but you know she would do that for anyone, ok?)... say a fake-spontaneous Ohhh Tack!. that s all needed to the moment. then, in the interval you ll be able to talk to her, in english, because you have already showed how a good swedish-two-words-speaker you are!
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
elas riam, e tal.
elas riam, e tal.
o importante é compreender que rir da risada é antes um jogo de linguagem, puro e simplesmente.
o importante é compreender que rir da risada é antes um jogo de linguagem, puro e simplesmente.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
olha la a vaquinha, coitadinha.
olha la a vaquinha, coitadinha. de tao frio, mal ela se mexe. fica ali parada, encostada na vaquinha do lado, esperando que isso seja consolo. de tao desconsolada, evita ate de ficar dizendo mu, pois sabe que logo pronunciado, o m cairia por terra abaixo, no chao enevado, branquinho branquinho, e o u, tao sonoro, nao chegaria ao banco aquecido do viajante da alta velocidade. olha la a vaqvuuuuuuuuu, passou, com alta velocidade.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Era uma vez uma lebre, alva, em Inaba
Era uma vez uma lebre, alva, em Inaba
Sua carne crua, sua pele descorada
Carregando um grande saco no ombro
O velho deus da colheita se aproximou da chuva
E lá ele viu a pobre lebre alva de Inaba
Sua carne crua, sua pele descorada
E com pena da pobre lebre
O deus a ensinou a se lavar na água cristalina
E a se enrolar num algodão também alvo
Foi o que o velho deus da colheita lhe ensinou
A lebre então lavou-se na água cristalina
E enrolou-se num algodão alvo e macio
E assim voltou a ser uma lebre alva
Quem será o velho deus da colheita?
(do ainda não do kurosawa)
Sua carne crua, sua pele descorada
Carregando um grande saco no ombro
O velho deus da colheita se aproximou da chuva
E lá ele viu a pobre lebre alva de Inaba
Sua carne crua, sua pele descorada
E com pena da pobre lebre
O deus a ensinou a se lavar na água cristalina
E a se enrolar num algodão também alvo
Foi o que o velho deus da colheita lhe ensinou
A lebre então lavou-se na água cristalina
E enrolou-se num algodão alvo e macio
E assim voltou a ser uma lebre alva
Quem será o velho deus da colheita?
(do ainda não do kurosawa)
sábado, 23 de janeiro de 2010
Era mais um concerto, e faltava dez minutos.
Era mais um concerto, e faltavam dez minutos. Os textos na língua materna serviam de vacina. Dez minutos dali, ele estaria imerso a língua que tanto lhe prendia a língua, preso a essa desconhecido pelo decorrer de uma hora.
Mas os poemas lidos par hasard (já sortiam os primeiros efeitos da vacina) lhe cansavam. Os anticorpos galícios então lançaram
- On aime beaucoup les files ici, à France, non?
A senhora sorriu, se aproximou de um banco e pediu perdão.
- Les français, tous les français aiment bien être sur les files. Au Brésil, je pense qu'il n'y a pas les files comme ici.
A senhora continuou sorrindo, e ele sabia que ela concordava, em sua língua, mas os novos anticorpos deram apenas conta de reconhecer a pergunta fina, e você vem da Inglaterra?
Sorriu. Finamente não o consideravam espanhol ou, pior, mexicano.
- Oh non, je suis brésilien.
A velha senhora sorriu exclamando que nutria uma grande admiração pelo Brasil. Lá vem o papo da Amazônia, do calor e do bundalelê, pensou.
- Você sabe, ele é muito importante na minha vida, o Lulá, disse a sorridente, num sotaque particular.
Com tal surpresa, ele também sorriu. E sorrindo, eles versaram sobre a política, mas os dez minutos se passaram e a senhora disse, por último, já ao se levantar, Sarkozy, ele sim é um tolo. E ela não sorria mais.
-
-
Na hora seguinte, surpreendido pela execução, não na origem do Tintin nem na do Milu, mas sim naquela proveniente do cáucaso (cuja vacina, era notável, ele não havia tomado), ele sorriu em alguns momentos. Não ria, porém, do contágio daquele novo organismo fonético, mas sim por perceber que nascera dotado dos mesmos sensos comunicativos que eles (os que, como Obelix, haviam caído no caldeirão da língua gaulesa quando ainda bebês e assim falavam coucou e bonjour e horloge et enfin).
A moça pulava da poltrona e ria, olhando para a outra moça à cotê em todos os três efes subitamente perfomáticos. Já a outra, se s'apercebia da grande variação de pressão sonora advinda do pequeno palco, pouco ou mal se surpreendia, apaixonada que estava pelo moço assentado na fileira do g de gato, de gateau, número treze, do treze de lula.
Uma outra senhora (a notar: bastante menos confiante da vida, e, por isso, menos sorridente) atraía também os olhares da garota, mas não se tratava de paixão, ou talvez pelo silêncio humano que devia reger a platéia concertal. Logo na seção mais silenciosamente musical da peça, um ataque de tosse atacava a pobre saúde da velha. E ela, decerta de sua derrota, descofiante que estava da sua saúde, procurava as pequenas balas verdes indicadas pelo farmacêutico, o qual não havia suposto que a embalagem metálica poderia causar tantos desorrisos.
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Se sou contra a afetação, é simplesmente porque antes do que chamam de arte, eu amo a vida.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Eu ainda vou encontrar.
Eu ainda vou encontrar. Quando você dirá a ele?
Alguém ligou?
Que horas são?
Eu tenho um segredo. levanta
Ninguém ligou. senta
Eu não sei. Uma coincidência. ri
Não se esqueça que hoje é sexta. Quando foi?
Eu ouvi alguém.
Eu queria te dizer uma coisa, Susie. levanta
sai
(coelhos do David Lynch)
Alguém ligou?
Que horas são?
Eu tenho um segredo. levanta
Ninguém ligou. senta
Eu não sei. Uma coincidência. ri
Não se esqueça que hoje é sexta. Quando foi?
Eu ouvi alguém.
Eu queria te dizer uma coisa, Susie. levanta
sai
(coelhos do David Lynch)
sábado, 2 de janeiro de 2010
Se é preciso que se escreva um manifesto
Se é preciso que se escreva um manifesto (sobretudo quando ainda há juventude em nosso espírito, o que ainda nos é sinônimo de rebeldia) para entrar nos compêndios históricos, aqui vai o meu, ressaltando, porém, a falsa pretensão do seu autor em participar de tais anais.
Que seja abolido o espírito coletivo. Sou eu, antes de ser brasileiro. Sou tiago, antes de ser masculino. Calço quarenta e dois, antes de ser feliz. (Sabia, pela análise histórica, que a negação é parte primordial de um manifesto). A necessidade, natural (ao que parece), do serhumano se agrupar em bandos, e criando, com isso, essa defenestração dos sentimentos, naturais (ao que parece), chamada cultura gerou no mundo guerras e rivalidades. A fronteira só existe quando se define os seus conteúdos. (O preconceituoso negro que, tendo a frente duas coisas, chama uma de maçã e a outra de banana, não merece ser ouvido quando reclama que as outras coisas lhe chamam de negro, pois tendo a frente duas coisas a frente, eu duvido que uma banana (essa sim, livre de preconceitos) chamaria uma coisa de branco e a outra de negro).
Sou uma mistura de você com o seu vizinho. E com o meu. Não me defino, senão pelas minhas mensurações físicas, que são um pouco menos amorfas que meus pensamentos. Digo: cabelos negros (a luz do sol, sem que a química os colora, aviso logo), nariz de batatinha, mãos ligeiramente grossas (as luvas cabem-me na largura e sobram-me nos comprimentos), alguns centímetros de pênis e outros de orelha. Não sou nada que não sou, mas disso também não passo.
O português me veio como sobrevivência, o que faz tanta diferença quanto ter calçado sapatos chineses na infância, ou ter aprendido a usar os hashis apenas na adolescência, ou ter andado de trem em pirituba, ou ter andado de bicicleta em paris, ou ter nadado o atlântico atrás de um peixeboisereia que me encantou cantando em pentatônicas (ou hexafônicas, o que não faz, mesmo, diferença).
E com tudo isso, afirmo logo, somos uma profusão de coisas, de variáveis (vide obra aberta, do umberto eco (sim, na verdade, me considero uma grande obra aberta, assim como considero a quem lê isso (e a quem não lê também))), que me definir "homem", "brasileiro", "feliz", "machista", "viado", "bom vivão", na verdade, não diz nada. E reafirmo, sou antes de mim mesmo, apenas uma coisa que pensa ser quem eu sou.
Assim, para dar crédito a essas palavras e aguardar a sua fixação na história do mundo (se é que o mundo existe, já que aqui não se acredita mais em fronteiras, quiçá as intergaláticas), assino logo aqui, eu e meus outros eus, que são tão eu quanto eu, mas não passam de mim mesmo.
Tiago, músico
Tiago, viajante
Tiago, amante
Tiago, pedófilo
Tiago, comedor de bons sushis
Tiago, zagueiro
Tiago, cavalo
Tiago, cavalo-marinho
Tiago, dono do ticket velib nombre 8762040 válido jusqu'aujourd'hui
Tiago, nascido no ibirapuera, hospital do servidor público estadual
Tiago, que aprendeu a tocar violão comprando revistas do legião urbana nas bancas de são paulo
Tiago, que se criou em são paulo
Tiago, que se criou em pirituba
Tiago, que nunca foi ao capão redondo
Tiago, que não usa as letras maiúsculas para dizer os nomes próprios das coisas, senão seu próprio nome próprio
Tiago, que não usa pontosfinais. e que por isso poderia escrever para todo o sempre tudo aquilo que é, sem que, sequer, se atingisse a ponta mais próxima do âmago do seu ser
Que seja abolido o espírito coletivo. Sou eu, antes de ser brasileiro. Sou tiago, antes de ser masculino. Calço quarenta e dois, antes de ser feliz. (Sabia, pela análise histórica, que a negação é parte primordial de um manifesto). A necessidade, natural (ao que parece), do serhumano se agrupar em bandos, e criando, com isso, essa defenestração dos sentimentos, naturais (ao que parece), chamada cultura gerou no mundo guerras e rivalidades. A fronteira só existe quando se define os seus conteúdos. (O preconceituoso negro que, tendo a frente duas coisas, chama uma de maçã e a outra de banana, não merece ser ouvido quando reclama que as outras coisas lhe chamam de negro, pois tendo a frente duas coisas a frente, eu duvido que uma banana (essa sim, livre de preconceitos) chamaria uma coisa de branco e a outra de negro).
Sou uma mistura de você com o seu vizinho. E com o meu. Não me defino, senão pelas minhas mensurações físicas, que são um pouco menos amorfas que meus pensamentos. Digo: cabelos negros (a luz do sol, sem que a química os colora, aviso logo), nariz de batatinha, mãos ligeiramente grossas (as luvas cabem-me na largura e sobram-me nos comprimentos), alguns centímetros de pênis e outros de orelha. Não sou nada que não sou, mas disso também não passo.
O português me veio como sobrevivência, o que faz tanta diferença quanto ter calçado sapatos chineses na infância, ou ter aprendido a usar os hashis apenas na adolescência, ou ter andado de trem em pirituba, ou ter andado de bicicleta em paris, ou ter nadado o atlântico atrás de um peixeboisereia que me encantou cantando em pentatônicas (ou hexafônicas, o que não faz, mesmo, diferença).
E com tudo isso, afirmo logo, somos uma profusão de coisas, de variáveis (vide obra aberta, do umberto eco (sim, na verdade, me considero uma grande obra aberta, assim como considero a quem lê isso (e a quem não lê também))), que me definir "homem", "brasileiro", "feliz", "machista", "viado", "bom vivão", na verdade, não diz nada. E reafirmo, sou antes de mim mesmo, apenas uma coisa que pensa ser quem eu sou.
Assim, para dar crédito a essas palavras e aguardar a sua fixação na história do mundo (se é que o mundo existe, já que aqui não se acredita mais em fronteiras, quiçá as intergaláticas), assino logo aqui, eu e meus outros eus, que são tão eu quanto eu, mas não passam de mim mesmo.
Tiago, músico
Tiago, viajante
Tiago, amante
Tiago, pedófilo
Tiago, comedor de bons sushis
Tiago, zagueiro
Tiago, cavalo
Tiago, cavalo-marinho
Tiago, dono do ticket velib nombre 8762040 válido jusqu'aujourd'hui
Tiago, nascido no ibirapuera, hospital do servidor público estadual
Tiago, que aprendeu a tocar violão comprando revistas do legião urbana nas bancas de são paulo
Tiago, que se criou em são paulo
Tiago, que se criou em pirituba
Tiago, que nunca foi ao capão redondo
Tiago, que não usa as letras maiúsculas para dizer os nomes próprios das coisas, senão seu próprio nome próprio
Tiago, que não usa pontosfinais. e que por isso poderia escrever para todo o sempre tudo aquilo que é, sem que, sequer, se atingisse a ponta mais próxima do âmago do seu ser
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