terça-feira, 29 de dezembro de 2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bonjour

Bonjour.
Bonjour, monsieur.
Excusez-moi, mais où est la Seine?
Est la, monsieur. Tout-à-droit. sorriu
Ah, oui. Merci beaucoup. Au revoir.
Au revoir, monsieur.

E ela terminou de arrumar o patis e partiu. E o monsieur continuou a caminhar para o caminho que já era sabido. O que Umberto Eco não sabia quando falava sobre a redundância é que ela pode valer um sorriso.

Ao revê-la, senhora.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

duzentas mensagens.

duzentas mensagens. esse era o limite estipulado pelo meu aparelho celular para a caixa de mensagens sms. um celular médio, pensei, deve, portanto, ter uma capacidade média. pensando que pessoas médias como eu se relacionavam com pessoas ambamente médias, o aparelho dela também não devia ser muito diferente. dez por cento, pensei, dez por cento a mais ou a menos pode ser uma boa margem de erro.

comecei. "oi". não houve resposta. claro. insisti. "tenho saudades". devo seguir uma linha dramatúrgica, perguntei, pensando, ou apostar em fragmentos, perguntei novamente. mas eram duzentas mensagens, talvez duzentas e vinte. seriam mensagens suficientes para tentar muitos caminhos. "aquele dia foi muito bom". "você se lembra da cor da camisa do ciclistas que quase nos atropelou?"

a linha cômica pode funcionar, pensei, senão para obtenção de reposta, ao menos para conseguir um sorriso do outro lado. e um sorriso é sempre melhor que um amarro. "você e seu cabelo chanel". ela deve ter sorrido, pensei. mas. mas nada. apenas vazio.

"porque o rio que corre em mim". mesmo as besteiras mais sentimentais eram enviadas. incompletas. insolúveis. duzentas e vinte. duzentas e vinte duas, talvez. "tu és como um daqueles prendedores de cabelo de marfim". parnasiano demais, pensei. enviado, mesmo assim.

repetidos "oi"s. repetidos "eco"s. repetidos nadas.

"você lembra do pato?". "azul". "vermelho". "são paulo". "porque aquele dia eu queria você, porque aquele dia ia dar certo, porque aquele dia aconteceu"

mas num sistema comunicativo nunca há onipresença. e isso era torturante. ela teria batido a cabeça e desaprendido os códigos da língua portuguesa, pensei, perguntando. ou teria seu celular perdido a capacidade de decifrar o alfabeto romano, com seus acentos tupiniquins, sempre os acentos, malditos acentos. ela sorriria a cada terça menor descendente odiosamente tocada pelo aparelho chinês a cada mensagem recebida. ou ainda teria afogado o celular junto ao absorvente na privada, pensando, obviamente, não ela, mas eu.

ou pior. receberia ela duzentas outras mensagens doutro. sempre o outro, sempre a dúvida. uma caixa de entrada cheia de outro número, que não o meu. um único algarismo faria a diferença. eu em meu trono. eu em minha autocumplicidade. eu tão só.

"bem, duzentas e dezenove".

nada.

"fim"

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A internet caiu sincronizada ao primeiro ataque

A internet caiu sincronizada ao primeiro ataque dos latidos caninos. Seria coincidência? Ele acabara de assistir ao Estrangeiro, na versão do Visconti, e ali ouvira "será que aqui estamos julgando um homem que matou um árabe ou estamos a julgar a coincidência?"

A piada era: seria uma coincidência esses fatos (primeiro o longa, depois os latidos) virem, temporalmente, tão próximos? Mas não estava ali para o engraçado, mas sim para o desgraçado. E a desgraça estava nos encadeamento de coisas que lhe vinham a mente.

Sempre se achara um rapaz interessante, por que não? Tinha interesse de assim sê-lo, e não contava com a coincidência, e sim com o trabalho, para tal adjetivação. Andava de trem na infância, e lembrava de pensar sempre "mas poxa, de verdade, o arquétipo diz, 'não, no trem as pessoas sempre lhe serão desinteressantes, são pobres, deseducados, não lêem Camus, mas sim Coelho, não ouvem Refused, mas sim InimigosdaHP. não haverá, para você, uma boa dama' (não nesses termos, sabemos, eu, ele e você, leitor, mas era quase isso), e eu sou apenas a exceção que confirmava a regra?" Exceção ou não, nunca encontrou ali, Marie. Mas sempre esperou.

Talvez a questão esteja simplesmente aí. Em esperar. Não contar com coincidências, nem com nada, na verdade. Não contar era o mesmo que esperar. Na espera, pura e verdadeira, não se conta com nada. A espera é, antes de mais nada, a liberdade, e não a prisão. (e me perdoe o Eco, mas a localizada utilização das redundâncias, menos como recursos estilístico e mais como ferramenta retórica, diz respeito apenas uma coisa: que se enfatize: espero, e já não conto com nada).

Anexo desimportante: talvez o argelino chamasse o contar niilista por desesperança. Mas aqui há a política escolha do otimismo.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A ça va? E ça va.

A ça va?
E ça va.
A Acertou com Marcelo?
E Sim
A Gostou do salário?
E Ainda não tratamos disso
E Com licença
E Hoje é dia vinte e três
A Oui, et allor?
A O que tem o dia vinte três?
E Você prometeu sair comigo no dia vinte e três
A Eu não prometi isso.

pausa

A Eu não prometi isso
E Eu lhe acho uma linda mentirosa
A Eu não acho
E Haha
A Por que esse ha-ha?
E Porque acho que você é mentirosa
A Não sou
E Jamais?
A Algumas vezes, mas não com freqüência
E Quando?

pausa

A Para voce eu minto
E Por que só para mim?

pausa

E Não é por que eu minto para você?
A Não é isso
E É por que eu tenho nariz grande?
A (ri) Não é isso!
E que bom. ainda bem
A Por que deseja sair comigo esta noite?
E Porque além de linda, você é carinhosa
A Apenas isso lhe atrai em mim?
E Tudo me atrai
A Tudo?
E Seu cabelo, olhar, nariz, boca, mãos…

pequena pausa

A Sair significa dormir juntos?

pausa

A Responde sinceramente

pausa

A Responde

pausa

A Quantos anos você tem?
E Tenho vinte e um
A E seus pais ainda estão vivos?
E Sim, estão
A Visita-os com freqüência?
E De vez em quando
A Você sai com garotas?
E Sim, de vez em quando
E Seria bom dormir com você
E E voce?
A Eu sequer cogitei isso
A (morde os lábios)
E E agora que eu lhe pergunto?
E Por que disse que sairíamos?
A Menti (ri)
E E por que fez isso? Pensei que falava sério.
A Sinto muito ter sido descortês, mas…

pequena pausa

A Você sai com garotas à noite?
E Sim, já disse que sim
A De que tipo?
E Do tipo que me agrada
A Como eu?
E Sim
A E com prostitutas?
E Sim, de vez em quando
E Mas não me agrada. É triste e frio
A Não quero saber disso
E Só falei
A Por que falou?
E Para que conheça minha forma de pensar
E E você que costuma fazer à noite quando está sozinha?
E Por exemplo, que fará essa noite?
A Hoje eu tenho de classificar as fotos para o calendário
E É verdade?
A Sim
E E que tipo de foto?
A Fotos de moda
E Me disse que se dedicava a discos, não a moda
A Posso associar ambos os trabalhos
A Também classifico fotos de moda
E Fotos suas?
A Não
E Esta noite você sairá com outro rapaz?
E Outra noite a vi com outra pessoa. Um rapaz alto e forte.
A Encontrei-o por casualidade
E Verdade?
A Sim, claro
E Não posso acreditar
A Mas é verdade
E E onde foram?
A Tomar um café
E Do que falaram?
A Do meu disco

pequena pausa

E Caso saiamos, tem medo de que e a conquiste?

pequena pausa

E Por isso não sai comigo?
A Sim, talvez seja isso (sorri)
E Por que você teme que eu a conquiste? Você é belíssima
A Isso me deixa apreensiva
E Você tem belos seios
A (ri)
E Sim, isso também importa, você sabe

pequena pausa

E Olhe-me nos olhos
A (Sorri)
E Em que pensa ao me olhar? Vamos, olhe-me
A Em nada
E Como em nada?
E Deve pensar em algo. Sempre se pensa em alguma coisa
A Apenas lhe observo
E Agora, em que pensa?
A Bem
E Diga
A Que é o centro do mundo para você?
E O centro do mundo?
E Que inusitado. Acabamos de nos conhecer e olha sobre o que falamos
A É uma brincadeira normal
E Sim, claro
A Vamos, me responda
E O amor, acho
A A minha resposta é em mim mesma

pequena pausa

A Parece estranho para você?
A Não lhe é estranho?
E De certa forma, sim, claro
A A que se refere?
E A ver e dizer as coisas segundo sua maneira de ser
E A utilizar sua cabeça

grande pausa

A Você acha que pode viver sozinho? Sem mais ninguém?
E Não. Não é possível. Não pode ser
E Não se pode viver sem ternura, seria como suicídio
A Olhe-me nos olhos

pausa

A Se lhe dissesse que talvez o ame, você gostaria?
E Claro que gostaria. Bien sûr.
(Jean-Luc Godard)

domingo, 22 de novembro de 2009

"posso falar diz uma porque já sei a estrada

"posso falar diz uma porque já sei a estrada e nela caminhei à noite e ao sol, pedra nenhuma te fará sombra e moradia, ora deixa-me olhar a estrada com os meus próprios olhos diz a outra, se não há pedra bondosa deixa-me olhar o vazio do lugar, se me vou ferir deixa-me senti-lo pois só aprendo se em mim se mostra o ferimento e talvez a ferida se enoje de mim, tantas palavras quando o outro só tem que caminhar onde todos caminham, que pedra me faz falta? que moradia tu pensas que preciso?" (hilda hilst)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

"olha, desculpa", ela disse

"olha, desculpa", ela disse, sem que, na verdade, desculpasse, "não dá mais", (já não era possível dizer, aqui, se era ou não, pois o cálculo das probabilidades era uma pilhéria). "hum", disse ele, a mão a testa, o lábio trêmulo.

"desculpa", ele disse, sem que, na verdade, se olhassem. mas ela nada disse (o seu silêncio já era esperado). e do outro lado da linha vinha apenas o pulso telefônico.

domingo, 8 de novembro de 2009

eu adotei uma mariposa, e seu nome era k.

eu adotei uma mariposa, e seu nome era k. ela me ensinou muito, e sabia (como sei já não é possível explicar) que também lhe tinha ensinado. a cumplicidade veio em pouco tempo: logo eu olhava por ela, e ela retribuía o olhar. eu ouvia por ela, e ela retribuía a audição. eu amava por ela, e ela retribuía em amor.

ficava no pequeno quarto destinado aos estudos acústicos, ao chão. ora, é verdade, à parede, próxima ao interruptor, o que me causava, mais a princípio, menos com o tempo, um certo arrepio. mas, entendo agora, que era mais uma questão com o incômodo de k. do que comigo mesmo. ficava ali, batendo suas asas numa desassociação paramétrica que era só sua: a velocidade e a amplitude nem sempre coincidiam, a ponto de k. não ser uma exímia voadora. não num cubículo de uma dúzia de metros cúbicos.

eu adotei uma mariposa, e seu nome era k. me vem agora o absurdo que é adotar algo, alguém, uma mariposa. os algos, alguéns ou mariposas continuam sempre os mesmos, por mais que as relações mudem. entendam: namorar alguém não é operar nele de forma a amorfá-lo, destituí-lo de seus caracteres, preenchê-lo com um conteúdo que não lhe signifique, que não lhe pertença (como se preenche a galinha com farofa de banana no natal, como se ali coubesse algo que não seja, antes de mais nada, galinha, pura e simplesmente).

ela me ensinou muito. a calma, a perseverança, que infelizmente não pude aprender com meus fios de cabelo, ou minhas unhas, ou os textos de barthes, ou as listas intermináveis da poesia concreta que somam elementos sem que o último seja precedido da conjunção aditiva esperada, aprendi com k. a filosofia zen poderia ter melhores tutores, mas k. também ensinara que não existem melhores algos, alguéns ou mariposas, existem apenas possibilidades. a boa possibilidade também não existe, pois k. continua no pequeno quarto, enquanto eu mesmo lá não estou (como sei já não é possível explicar).

k. me ensinou a dançar. sem o afetismo que sofrem os nossos dançarinos, ela se punha a transcrever no ar pequenos aforismas de pura poesia. comunicava-se comigo através dessa dança (mas não só, entenda). comunicava com o mundo, era verdade, através desses signos, mas eles não estavam disponíveis o suficiente. e me fazia pensar quantos os sinais que existem por aí (ipês, sementes voadoras, uivos sigilosos, reflexos, sonoros, chuva) para os quais não tenho estado disponível. claro, entenda, que tendo cinco sentidos e um único cérebro, não dou, não dei e não darei conta de aperceber a volta. mas estava bem, e deveria sempre estar, por não há bom apercebimento, senão possibilidade.

k. partiu hoje, o que me seria uma má possibilidade? fui ao recinto onde se cozinha, e, ao passar pelo pequeno quarto de doze mil litros, lá não a encontrei. mas isso é mentiroso, ou apenas uma possibilidade. (verifico (verifique?)) que aqui se deu a única dúvida desta escrita, e que isso, acredito! (acredita?) tem um significado dentro das estruturas importantíssimo). k. me ama, e eu amo ela. sigo a espera de momentos em que, possivelmente, possibilidade se cruzem e me apareçam novos momentos. sigo a espera do dia em que conhecerei k. e ela me mostrará que tudo isso que escrevi é verdade, e que se encontra num tempo futuro, que a língua portuguesa ainda não deu conta de descrever. e não a esperarei para adotá-la, castrá-la, destituí-la ou enterrá-la.

espero de k. apenas sua metamorfose.

(apócrito desnecessário: e com essa última frase entenda: k. voltou e trouxe consigo a esperança.)

sábado, 7 de novembro de 2009

"... engraçado, nunca me vi assim

"... engraçado, nunca me vi assim, te lembraste de outra? nunca tive esse cabelo, nem esse rosto comprido, o olho tão redondo, não gosto quando me mostras teus desenhos, teus versos, nunca me vejo neles, é como se tu fosses outro cada vez que me mostras esboços palavras"
(hilda hilst)

domingo, 25 de outubro de 2009

Me, totemo utsukushi desu ne totemo utsukushi me o shite imasu

Me, totemo utsukushi desu ne totemo utsukushi me o shite imasu
00:20
enfim, me chama pro seu casamento

Letícia [ pode dá ]
00:21
quem sabe vc pega o buquê!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

00:06:19 guelherme

00:06:19 guelherme: arte sem mistério é como bolo sem....
00:06:28 guelherme: fala uma coisa importante do bolo...
00:06:54 summer makes good: fermento?
00:07:56 guelherme: como bolo sem fermento

sábado, 12 de setembro de 2009

Ela estudava cinema

Ela estudava cinema. Tinha apreço pela escrita roteirística. E nos seus estudos, lera no velho manual de peçaparatela: "tão bom será o roteiro quão próximo do fim estiver seu clímax". Ponto.

Nunca bem entendera isso. Nunca, até hoje. Não lhe era claro o sentido disso, e talvez não fosse, sabia, até mesmo para o bom senhor que imortalizara a frase no tal livro. Uma relação entre a estrutura e o seu ponto culminante que fugia a regras que pudessem ser entendidas puramente pela matemática, como a utilização da secção áurea ou a série de fribonacci. Mas não era a isso que se referia a afirmação.

Dizia respeito, sim, a um aspecto meramente duracional. O filme deveria acabar logo não houvessem mais expectativas a serem quebradas. Pois, sabia novamente, não era só a ela que os casamentos finais desimportavam. O que prendia o bom público a uma boa estória era sempre seus desconhecimentos. E, cá entre nós, e ela também, final de filme era sempre final de filme. Mas não era só isso.

Pois nunca entendera isso, nunca, até hoje. Passeava na rua, e os ipês (lera no grande parque da árvore podre que era essa árvore o símbolo nacional (pensava em enviar à CBF um comunicado pedindo que fosse sua flor o símbolo da Copa (seria, sim, melhor que um saci ou um pelézinho))). Passeava na rua, e os ipês que sempre lhe atraiam os olhares, tanto ao céu, com suas flores reluzentes, quanto ao chão, com seus depósitos multicoloridos de órgãos reprodutores descartados, agora lhe mostravam a solução do antigo problema. Não havia nada mais feio que um ipê com duas flores sobre seus galhos secos.

Não havia nada de mais feio, e sabia porque: um ipê em plena decadência estava muito distante daquele ipê totalmente colorido, em seu clímax próprio. E a resolução desse clímax deveria ser num desfecho triunfal, como que reafirmando a si mesmo. O alongamento dessa resolução, ou seja, seu afastamento meramente temporal do seu próprio disparador, gerava aquilo que não se queria ver, o ipê em decadência linear, que parecia negar que ali, noutro momento, houvera o esplendor de mil felicidades.

Tudo aquilo que, por melhor que fosse, não tem um final feliz (dizia agora "adequado"), negava sua própria existência, sua identidade. O final, afirmava Aristóteles, estava contido em toda obra, como seu começo e meio. No final, sempre os bons gregos, e no caminho, a boa natureza, com seus maestros arbóreos. O ipê ensinava mais que mil folhetos técnicos para cinema, e isso era o maior ensinamento do dia.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

02:15:49 summer makes good

02:15:49 summer makes good: tava falando com uma amiga hoje, sobre acreditar não ter mudado nunca na vida. você acha que mudou?
02:16:16 Letícia [ pode dá ]: sim, sim, bastante
02:16:26 Letícia [ pode dá ]: principálmente quanto a esse lance de ter orgulho
02:16:32 Letícia [ pode dá ]: mudei 100%
02:16:58 summer makes good: eu juro que nunca mudei nada nada :)
02:18:02 summer makes good: essa semana achei um álbum de figurinhas meu de quando eu não sequer sabia escrever
02:18:10 summer makes good: "seus esportes favoritos: natação, futebol ciclismo (corrida com bicicleta), ginástica". "seus ídolos: elô, zeca, mãe, cacá, joão do posto"
02:18:19 summer makes good: "diga aqui o que você não gosta... e o que atrapalhar demais sua vida: não gosto de apanhar, não gosto de sair sozinho, não gosto de cenoura, milho e chuchu."
02:18:27 summer makes good: (tinha essas perguntas no meu do album)
02:19:17 Letícia [ pode dá ]: e vc responderia o mesmo hoje?
02:19:38 summer makes good: não, jamais
02:19:44 summer makes good: mas vejo um espírito em comum
02:20:05 summer makes good: colocar no álbum que gosta do joão do posto. não tenho a menor ideia de quem seja!
02:20:11 summer makes good: não gostar de sair sozinho :(
02:21:25 Letícia [ pode dá ]: hahahahha
02:21:36 Letícia [ pode dá ]: tenho certeza que vc mudou sim
02:21:46 Letícia [ pode dá ]: é que a essência é sempre a mesma
02:21:59 summer makes good: ué, e é nisso que vou defender não ter mudado
02:23:18 summer makes good: tenho uns vídeos de mim com 5 anos, danço igual, canto igual... aprendi a ter uma dicção melhorzinha só
02:24:47 Letícia [ pode dá ]: mas todo o mundo é assim!
02:25:44 summer makes good: mas se eu chegar pra * tentando voltar ela virá com papo de que mudou, de que mudei, e de que o mundo mudou
02:25:48 summer makes good: mas tá tudo no mesmo :)
02:27:19 Letícia [ pode dá ]: é que...
02:27:30 Letícia [ pode dá ]: tem sempre muita coisa envolvida na vida
02:28:07 Letícia [ pode dá ]: tenho certeza de que todos os jovens de que gostei sempre vão ter o que combine comigo, sempre vão ter algum tipo de ligação comigo, se for possível deixar acontecer
02:28:38 Letícia [ pode dá ]: mas tem muita coisa envolvida além disso
02:29:03 Letícia [ pode dá ]: nem todos dariam certo agora comigo, acredito
02:30:54 summer makes good: sim, sei que não
02:31:12 summer makes good: é que a gente vai mudando o caleidoscópio
02:31:16 summer makes good: mas as pedrinhas são sempre as mesmas
02:31:27 summer makes good: (que bonito, vo fazer algo com isso pro blog! hhaha)
02:32:02 Letícia [ pode dá ]: mas a nossa vontade tem algo a ver com isso
02:32:15 Letícia [ pode dá ]: com um pouco de insistencia, talvez tudo seja possível

terça-feira, 1 de setembro de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ora, uma coisa é evidente



Ora, uma coisa é evidente: o Cosmo é um organismo vivo que se renova periodicamente. O mistério da inesgotável aparição da Vida é solidária à renovação rítmica do Cosmo. Por essa razão, o Cosmo é imaginado pela forma de uma árvore: o modo de ser do Cosmo e, em primeiro lugar, sua capacidade de regenerar-se infinitamente, é expresso simbolicamente pela vida da árvore.
(Mircea Eliade)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sempre que podia

Sempre que podia, metia os pés no chão. E fora assim desde a infância. Se lembrava das idas ao sítio da bisavó, onde, na trilha aberta pelo trator, sentia o prazer de ser o primeiro a, com um impulso futebolístico, jogar para cima as sandálias coloridas, e sentir a terra seca que cercava seus pordebaixos, entrava nas frestas dos dedos e sujava-lhe (coloria-lhe?) as palmasbaixas. (colorido esse que, é sabido, logo se estenderia às demais partes de sua pele, de suas vestimentas e cabelos).

Não entendia, assim, as pessoas que insistiam em calçar, mesmo nas horas incalçáveis. Lembrava do horror das pessoas, bichos de pé, geográficos, um mileum de motivos para se proteger contra a única coisa que poderia ser achada em toda e qualquer parte do planeta. Não entendia, tampouco, as moças que, sob a água quente do chuveiro, lixavam suas solas com afinco. As texturas deixadas de lado, um grande gate associado aos pés, de forma que as sutilezas detridas, em prol de um pé, diziam, mais elegante.

Pensava hoje, a televisão ligada, a matéria sobre choques elétricos. O especialista recomendava usar as sandálias de borracha (não parecia haver indicações quanto aos momentos a usá-las, apenas usá-las). Esta era, sabia, a prova última da eficácia dos pés ao chão. Não que eles não fossem, era verdade, danosos em casos como os apontados pelo eletricista: podia-se evitar choques no banheiro, ao manusear instrumentos elétricos e etecétera; mas o que mais seria assim evitado? Essa pergunta, que não precisava realmente de resposta, servia-lhe como conclusão aos desvaneios que já transcorriam os comerciais televisivos, a matéria jornalística findada.

Sua mãe dizia que pisar na terra descarregava as energias. Boas ou más, energias gastas precisam sempre ser descarregadas. E se o mero contato com uma matéria tão matéria quanto qualquer outra que há no mundo teria, efetivamente, essa função já não poderia dizê-lo.

Sempre que podia, metia os pés no chão. E assim fora, e assim continuaria a ser. Nas ruas do simpático bairro desasfaltado; no sítio da, ainda viva, bisavó; no campus universitário, tão propício; e em seu próprio quarto, onde guardava (era segredo) uma pequena caixa de madeira, que cheirava a humus e chuva: uma caixa cheia até a boca de terra preta, com marcas de pegadas número quarenta e dois, guardada docemente sobre o armário. Todos os dias, ao chegar em casa, ia ao quarto, onde já não se entrava de calçados, se esticava para alcançar a caixa, e ali, sentado em sua cama, repousava os pés por alguns instantes. Não era científico nem placebístico: era apenas bom, e isso bastava.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Era aquela época do ano

Era aquela época do ano a que chamam inverno. E dela já se passava quase o fim, quando sentiu-se a necessidade de um marco, uma baliza, que dissesse 'a, deixamos o inverno, e agora temos a primavera!'. Tal necessidade floresce no interior dos homens, e, não se sabe como, traz-lhes os sentimentos mais antológicos.

Não fora, contudo, o surgimento de bromélias ou girassóis, nem o brotamento das flores primaveris que fazeriam tanta a felicidade dos beijaflores. Não fora, tampouco, o sol, que ardia cada vez mais, nem o frio, cada vez mais ameno nas noites solitárias. Não foram, sequer, as liquidações dos shoppings centers, nem o pó juntado às roupas negras e pesadas que pendiam, já, no fundo dos guardarroupas.

Não fora. E a opção era mais simples, e devia sempre sê-la.

O vento, não bem invernal, soprava nos rostos das pessoas (o que não nos importava), fazia bater os portões de ferro do bairro (o que tampouco nos importava), e tremulava a bandeira hasteada com tanta idolatria (o que sequer nos importava). O vento, não bem invernal, lavava as calçadas e ruas das folhas secas (o que não bem nos importava), balançava os cumes das árvores mais altas (o que já nos importava um pouco), e, sobretudo, os galhos frondosos da árvore que ficava em frente da casa (apenas o que, deveras, nos importava).

O vento, não bem invernal, anunciava o próprio inverno, em seu estágio mais seu: seu próprio fim.

E ela, a quem o inverno chamaria 'algoz primeiro', e a quem a primavera, era sabido, chamaria 'rainha do alvorecer', calçava os sapatos e corria do quarto do fundo, onde passava suas tardes, logo ouvia os primeiros uivos daquele que não era bem invernal. E o vento levava abaixo centenas de pequenas vagens, secas e agonizantes, separadas de suas porções vida, a que alguns chamam 'semente'.

Uma a uma, as hélices cônicas cricrilejavam sob os tênis insaciáveis da pequena. E ali havia um jogo (e ali deveria sempre haver): tão logo caiam no chão, tão logo eram as vagens pisadas; já àquelas que num primeiro momento tombaram de seu trono inalcançável era dado um momento a mais de sobrevida, como uma indenização compensatória dada antes da ofensiva final. Outro jogo se dava também quanto ao número de estalos que uma única vagem poderia oferecer: cultuavam-se aquelas que, após duas grandes pisadas, ainda ofereceriam um cricrilejo último.

E então, juntando-se aos pássaros que não deixavam de assobiar sobre a árvore da frente da casa, os estalos já soavam como sinos de uma antiga igreja. Sinos, sinais tão carregados de semanticismos e fé. Campanas essas que significavam (sabemos) um culto secreto, cujas provas deitavam agora sobre a rua, com seus pequenos fragmentos de material cricrilejante misturadas à terra. A menina olhava satisfeita. Estava feita sua própria sagração.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ela chegou em casa

Ela chegou em casa, e o destino já era certo. Passos curtos, diretos, levavam ao banheiro. A porta fechada, o espelho sendo sua única testemunha. Apanhada no armário, a pequena tesoura fazia frio aos grandes dedos, que, aos poucos, se acostumavam com o seu aço. Logo, o primeiro tufo de cabelo caía, e caía também a primeira lágrima. Era assim que terminava, e devia assim sê-lo. Não que fosse, de certo, a primeira lágrima; mas era, havia convicção, a primeira dentre as últimas.

Assim sendo, todos saberiam. Mas não era isso. Não era uma questão se mostrar àlguém, de afirmar algo já afirmado. Não era uma questão de sobreaviso. Era, antes, uma questão consigo. Contíguo às orelhas, o novo corte se moldava ao rosto, branco, contrastante aos olhos, vermelhos. O sorriso desdobrava a cada nova fricção do aço, curta, direta, a cada novo volume de cabelo derramado à pia, que, quão mais ralo era, mais rala era a lágrima correspondente.

Não havia uma prédisposição estética para o novo corte. O que o moldava aliás, seus novos comprimentos e arestas, era o relacionamento que acabara, suas forças e dimensões. Terminado o namoro, caso, casamento, whatever, lá ia ela ao banheiro, tesoura à mão, cabelo ao ralo. Lembrava apenas uma vez de ter ficado próxima do careca, e a lembrança lhe trazia um certo arrepio juvenil. Já a gillete, guardada na gaveta, ansiava, por que não?, por uma necessidade maior, uma consolação a ser dada, mas que ainda não fora precisa.

Sorriu. E o espelho retribuía o sorriso, aprovando, como sempre, o novo corte. A tesoura retornava à gaveta, à espera. Estava bem. Deveria, sempre, estar bem, pois assim lhe parecia a vida: uma eterna renovação.