quarta-feira, 21 de abril de 2010
A complexidade da vida (e de
A complexidade da vida (e de todas as contáveis coisas que nela há) se explica: olha-se para o pé de amora e vê-se bons pontos negros de pura felicidade; circunda-se a amoreira para pegá-los como que de surpresa, como um leopardo que persegue amoras, digo, lebres, sem que queira ser percebido, e que cai no fundo fosso que fora cuidadosamente transpassado pela astuta lebre: as amoras, desse outro lado do mundo (o mundo de trás) não existem mais; voltando ao ponto de partida, sem que importe por qual lado da árvore decide-se voltar, vê-se logo que elas estão todas lá, nos mesmos lugares; engana-se o leopardo que pensa: se trata de ilusão de óptica, as amoras não saem do lugar. Saem sim.
sábado, 17 de abril de 2010
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Como cresceu. Ontem mesmo (faz dois
Como cresceu. Ontem mesmo (faz dois anos) eu passei por ali e era só um muro em crescimento. Algumas semanas depois, ele já dava sinal de que não cresceria mais. E não cresceu mesmo. Mas hoje, reparei que, sob os altos muros que não crescem mais, cresceram as copas das árvores, que de tão grandes, assustam de não terem sido percebidas quando não havia muro. Elas se despejam sob os altos dos muros e caem sob a estrada, causando uma boa sombra para os motoristas a cem quilômetros por hora.
E me assusta não ter visto seu crescimento. Passo ali toda semana, toda semana a cem por hora, e hoje não foi diferente. Mas hoje, aconteceu algo diferente: naquela estradinha onde não há radares eletrônicos e nunca havia-se notado radares móveis, vi um desses últimos escondidos sob o guardirreio, silencioso, preciso. Minha velocidade era de cem por hora (antes que me multem por falso testemunho), mas mesmo assim brequei, e segui o resto dos seus dez quilômetros em procura de outros possíveis pontos de desfatura, atento ao que se passava. Não os encontrei; porém, trombei com as altas árvores.
Me parece que é assim que se deve bem viver: a procura de radares. Digo, decorar os pontos de radares fixos e os possíveis pontos de radares móveis pode ser útil e quase prático, mas não lhe deixa ver que as árvores crescem sob os muros.
Levar a vida sem que se saiba que há mudanças é como ouvir Chopin com todas suas cadências de cor (de coração), como ler Camões tendo conhecimento de todas suas rimas, como olhar Picasso sabendo onde e como ali está circunscrito (desenhado) um violão.
Agora entendo e critico a questão da obra de arte do século passado. O público já passou a prever muito, então começaram as atonalidade, as poesias sem rima, os quadros abstratos. Ninguém percebeu que não era aí que estava o problema, não na coisa em si, mas antes, no leitor.
Há de se fazer músicas onde o ouvinte se encontre sempre novo, como ontem; há de se fazer quadros onde o visor tenha olhos de criança; há de se fazer um livro em que o leitor seja de novo bebê e analfabeto.
Quando Manoel de Barros fala em Desaprender oito horas por dia, ele não diz em apagar, mas antes, em se surpreender.
Reescrevo:
Se surpreender oito horas por dia ensina princípios.
E me assusta não ter visto seu crescimento. Passo ali toda semana, toda semana a cem por hora, e hoje não foi diferente. Mas hoje, aconteceu algo diferente: naquela estradinha onde não há radares eletrônicos e nunca havia-se notado radares móveis, vi um desses últimos escondidos sob o guardirreio, silencioso, preciso. Minha velocidade era de cem por hora (antes que me multem por falso testemunho), mas mesmo assim brequei, e segui o resto dos seus dez quilômetros em procura de outros possíveis pontos de desfatura, atento ao que se passava. Não os encontrei; porém, trombei com as altas árvores.
Me parece que é assim que se deve bem viver: a procura de radares. Digo, decorar os pontos de radares fixos e os possíveis pontos de radares móveis pode ser útil e quase prático, mas não lhe deixa ver que as árvores crescem sob os muros.
Levar a vida sem que se saiba que há mudanças é como ouvir Chopin com todas suas cadências de cor (de coração), como ler Camões tendo conhecimento de todas suas rimas, como olhar Picasso sabendo onde e como ali está circunscrito (desenhado) um violão.
Agora entendo e critico a questão da obra de arte do século passado. O público já passou a prever muito, então começaram as atonalidade, as poesias sem rima, os quadros abstratos. Ninguém percebeu que não era aí que estava o problema, não na coisa em si, mas antes, no leitor.
Há de se fazer músicas onde o ouvinte se encontre sempre novo, como ontem; há de se fazer quadros onde o visor tenha olhos de criança; há de se fazer um livro em que o leitor seja de novo bebê e analfabeto.
Quando Manoel de Barros fala em Desaprender oito horas por dia, ele não diz em apagar, mas antes, em se surpreender.
Reescrevo:
Se surpreender oito horas por dia ensina princípios.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Bom dia é quando
Bom dia é quando a gente chega em casa e nem sabe como foi mesmo que saiu (e, no caso, nem de como chegou, se a farmácia estava aberta, ou se aquele cara que te olhou feio queria mesmo te assaltar).
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Você fala demais. Você
Você fala demais. Você pensa demais.
Pensar demais se trata de falar consigo mesmo. Mesmo quando se deve ter silêncio. Mesmo quando não há nada a ser dito. Você repete, e reitera, e adiciona condições e sinequanons. Todo aquele papo de que na história não existe o condicional Se em ti não funciona, e assim continua a se perguntar como poderia ter sido. Como deveria ter sido. Como você queria mesmo?
Você espera demais. E a resposta nunca vem porque você nem perguntou. E sequer ficou em silêncio. Você disse, mas não perguntou nada. Você descreveu, e é preciso muita intimidade para que se responda a uma descrição ("Aquela cadeira é azul", )
Você anda e suas bocas falam mais que suas pernas. Por mais que corra, isso se mantêm. E se seu cérebro não fala mais que sua boca, dá graças a deus. Senão, sairiam palavras pela sua orelha, nariz, olhos. Você seria tudo descrição.
Você escreve demais. E mesmo que não descreva, também não diz nada. E pergunta com pergunta dos outros, Isto te basta?
--
Post número 33. Sendo este o meu número favorito. Sendo este o número de minutos passado das duas em quando eu mandei uma mensagem sms.
Se deus não tivesse feito o mundo em sete dias, teria sido em 33.
--
Pensar demais se trata de falar consigo mesmo. Mesmo quando se deve ter silêncio. Mesmo quando não há nada a ser dito. Você repete, e reitera, e adiciona condições e sinequanons. Todo aquele papo de que na história não existe o condicional Se em ti não funciona, e assim continua a se perguntar como poderia ter sido. Como deveria ter sido. Como você queria mesmo?
Você espera demais. E a resposta nunca vem porque você nem perguntou. E sequer ficou em silêncio. Você disse, mas não perguntou nada. Você descreveu, e é preciso muita intimidade para que se responda a uma descrição ("Aquela cadeira é azul", )
Você anda e suas bocas falam mais que suas pernas. Por mais que corra, isso se mantêm. E se seu cérebro não fala mais que sua boca, dá graças a deus. Senão, sairiam palavras pela sua orelha, nariz, olhos. Você seria tudo descrição.
Você escreve demais. E mesmo que não descreva, também não diz nada. E pergunta com pergunta dos outros, Isto te basta?
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Post número 33. Sendo este o meu número favorito. Sendo este o número de minutos passado das duas em quando eu mandei uma mensagem sms.
Se deus não tivesse feito o mundo em sete dias, teria sido em 33.
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