A internet caiu sincronizada ao primeiro ataque dos latidos caninos. Seria coincidência? Ele acabara de assistir ao Estrangeiro, na versão do Visconti, e ali ouvira "será que aqui estamos julgando um homem que matou um árabe ou estamos a julgar a coincidência?"
A piada era: seria uma coincidência esses fatos (primeiro o longa, depois os latidos) virem, temporalmente, tão próximos? Mas não estava ali para o engraçado, mas sim para o desgraçado. E a desgraça estava nos encadeamento de coisas que lhe vinham a mente.
Sempre se achara um rapaz interessante, por que não? Tinha interesse de assim sê-lo, e não contava com a coincidência, e sim com o trabalho, para tal adjetivação. Andava de trem na infância, e lembrava de pensar sempre "mas poxa, de verdade, o arquétipo diz, 'não, no trem as pessoas sempre lhe serão desinteressantes, são pobres, deseducados, não lêem Camus, mas sim Coelho, não ouvem Refused, mas sim InimigosdaHP. não haverá, para você, uma boa dama' (não nesses termos, sabemos, eu, ele e você, leitor, mas era quase isso), e eu sou apenas a exceção que confirmava a regra?" Exceção ou não, nunca encontrou ali, Marie. Mas sempre esperou.
Talvez a questão esteja simplesmente aí. Em esperar. Não contar com coincidências, nem com nada, na verdade. Não contar era o mesmo que esperar. Na espera, pura e verdadeira, não se conta com nada. A espera é, antes de mais nada, a liberdade, e não a prisão. (e me perdoe o Eco, mas a localizada utilização das redundâncias, menos como recursos estilístico e mais como ferramenta retórica, diz respeito apenas uma coisa: que se enfatize: espero, e já não conto com nada).
Anexo desimportante: talvez o argelino chamasse o contar niilista por desesperança. Mas aqui há a política escolha do otimismo.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
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