sábado, 5 de junho de 2010

lembro que desde que me tenho por gente

lembro que desde que me tenho por gente procuro mensurar o futuro. explico: hoje percebi o quanto me incomoda não saber quanto tempo a água colocada no compartimento superior do filtro de barro demora para chegar, aos pingos, no compartimento inferior e que, superado o limite mínimo, passe a ser disponibilizada através do dosador de rotação; ou seja, em quanto tempo eu vou poder beber boa água, pura e limpa.

voltemos para o meio dos anos 90, quando química, física, biologia, geologia, astronomia e horologia chamava, simplesmente, ciências naturais. eu lembro de ter tido aula disso, e também lembro do livro utilizado para (era meio laranja, com uma foto de um rio, umas árvores, e umas pessoas desenhadas). mas não lembro de nada que supostamente eu aprendi (erosão de solo, ciclo da água, fases da lua, ummileum de coisas que talvez hoje me façam falta). apesar disso, lembro de um exercício proposto pelo livro. falando sobre metologia científica (?!?!?!), ele pedia para examinar o enferrujamento de um bombril, durante uma semana. mas deixava claro: o rigor científico exigia que, ao lado do bombril mergulhado em água, repousasse outro seco, o mais igual possível (?!?!?!), pois um caminho só pode ser conhecido como diferente se se souber qual era o outro possível (talvez o meu livro de ciências naturais tenha sido escrito pelo Deleuze).

enfim, um último exemplo da minha impaciência futurística: um professor de química, já nos anos 2000, mostrava como a borracha voava quando ele dava um peteleco com o indicador direito (?!?!?!?). eu perguntei - mas professor, se eu fornecer as exatas mesmas condições de peteleco, que incluem força e local de petequelagem, vento, temperatura e pressão atmosféricas (?!?!?!?!), o vôo da borracha (ok, você já entendeu a estrutura) vai ser idêntico.

talvez até hoje eu procure por condições ideais, sobre as quais seja possível, somente em meus sonhos de criança, é verdade, fazer previsões. e talvez isso ainda me deixe triste. mas triste como uma criança que sorri tão logo veja um sorvetão de morango pela frente.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Eu gostaria de ser

Eu gostaria de ser encanador. E disso não se trata de entrar em canos, usar macacões ou consertar chuveiros quebrados. Antes: ser convidado a entrar numa casa estranha e, ali, conhecer seus interiores, seus pordebaixos, suas intimidades.

Nenhum amigo uma vez me chamou para conhecer seu banheiro, como se portam sua pia e seu ralo, quais os problemas que enfrenta todas as vezes que lava roupa, ou os choques que leva ao abrir o registro do chuveiro. Quais lâmpadas queimam mais, ou onde há goteiras. Enfim, nenhuma casa nunca me foi apresentada, e isso me faz parecer traído.

Claro, também nunca a fiz (a apresentação baixia) a convidados. Nunca mostrei os relevos do azulejo cujo desenho (presumi desda infancia) eram de jovens trigos, os cabelos que se juntam aos montes no chão, as unhas cortadas perdidas nos cantos das paredes.

Eu gostaria de ser encanador, ou então aranha, lagartixa, mosquito. Esses sim, têm direito de adentrar os covis, de ali ter mais casa que eu mesmo, de ali chamar lar. Mas eles também nunca me apresentaram seus pertences, seus relevos, suas poeiras.



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Exercicio. 2.

Ao comentar o post acima, descreva, anonimamente, suas externidades que lhe caem mais internamente.

Não:

1... Limpar o inlimpável.

2... ignorar as larvas negras que nadam nas poças dágua.

3... Esquecer de falar da sua esponja do Bob Esponja.

4... Esquecer o quão suja está essa esponja.



nn... Esperar por respostas, já que a descrições, .