terça-feira, 29 de dezembro de 2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bonjour

Bonjour.
Bonjour, monsieur.
Excusez-moi, mais où est la Seine?
Est la, monsieur. Tout-à-droit. sorriu
Ah, oui. Merci beaucoup. Au revoir.
Au revoir, monsieur.

E ela terminou de arrumar o patis e partiu. E o monsieur continuou a caminhar para o caminho que já era sabido. O que Umberto Eco não sabia quando falava sobre a redundância é que ela pode valer um sorriso.

Ao revê-la, senhora.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

duzentas mensagens.

duzentas mensagens. esse era o limite estipulado pelo meu aparelho celular para a caixa de mensagens sms. um celular médio, pensei, deve, portanto, ter uma capacidade média. pensando que pessoas médias como eu se relacionavam com pessoas ambamente médias, o aparelho dela também não devia ser muito diferente. dez por cento, pensei, dez por cento a mais ou a menos pode ser uma boa margem de erro.

comecei. "oi". não houve resposta. claro. insisti. "tenho saudades". devo seguir uma linha dramatúrgica, perguntei, pensando, ou apostar em fragmentos, perguntei novamente. mas eram duzentas mensagens, talvez duzentas e vinte. seriam mensagens suficientes para tentar muitos caminhos. "aquele dia foi muito bom". "você se lembra da cor da camisa do ciclistas que quase nos atropelou?"

a linha cômica pode funcionar, pensei, senão para obtenção de reposta, ao menos para conseguir um sorriso do outro lado. e um sorriso é sempre melhor que um amarro. "você e seu cabelo chanel". ela deve ter sorrido, pensei. mas. mas nada. apenas vazio.

"porque o rio que corre em mim". mesmo as besteiras mais sentimentais eram enviadas. incompletas. insolúveis. duzentas e vinte. duzentas e vinte duas, talvez. "tu és como um daqueles prendedores de cabelo de marfim". parnasiano demais, pensei. enviado, mesmo assim.

repetidos "oi"s. repetidos "eco"s. repetidos nadas.

"você lembra do pato?". "azul". "vermelho". "são paulo". "porque aquele dia eu queria você, porque aquele dia ia dar certo, porque aquele dia aconteceu"

mas num sistema comunicativo nunca há onipresença. e isso era torturante. ela teria batido a cabeça e desaprendido os códigos da língua portuguesa, pensei, perguntando. ou teria seu celular perdido a capacidade de decifrar o alfabeto romano, com seus acentos tupiniquins, sempre os acentos, malditos acentos. ela sorriria a cada terça menor descendente odiosamente tocada pelo aparelho chinês a cada mensagem recebida. ou ainda teria afogado o celular junto ao absorvente na privada, pensando, obviamente, não ela, mas eu.

ou pior. receberia ela duzentas outras mensagens doutro. sempre o outro, sempre a dúvida. uma caixa de entrada cheia de outro número, que não o meu. um único algarismo faria a diferença. eu em meu trono. eu em minha autocumplicidade. eu tão só.

"bem, duzentas e dezenove".

nada.

"fim"

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A internet caiu sincronizada ao primeiro ataque

A internet caiu sincronizada ao primeiro ataque dos latidos caninos. Seria coincidência? Ele acabara de assistir ao Estrangeiro, na versão do Visconti, e ali ouvira "será que aqui estamos julgando um homem que matou um árabe ou estamos a julgar a coincidência?"

A piada era: seria uma coincidência esses fatos (primeiro o longa, depois os latidos) virem, temporalmente, tão próximos? Mas não estava ali para o engraçado, mas sim para o desgraçado. E a desgraça estava nos encadeamento de coisas que lhe vinham a mente.

Sempre se achara um rapaz interessante, por que não? Tinha interesse de assim sê-lo, e não contava com a coincidência, e sim com o trabalho, para tal adjetivação. Andava de trem na infância, e lembrava de pensar sempre "mas poxa, de verdade, o arquétipo diz, 'não, no trem as pessoas sempre lhe serão desinteressantes, são pobres, deseducados, não lêem Camus, mas sim Coelho, não ouvem Refused, mas sim InimigosdaHP. não haverá, para você, uma boa dama' (não nesses termos, sabemos, eu, ele e você, leitor, mas era quase isso), e eu sou apenas a exceção que confirmava a regra?" Exceção ou não, nunca encontrou ali, Marie. Mas sempre esperou.

Talvez a questão esteja simplesmente aí. Em esperar. Não contar com coincidências, nem com nada, na verdade. Não contar era o mesmo que esperar. Na espera, pura e verdadeira, não se conta com nada. A espera é, antes de mais nada, a liberdade, e não a prisão. (e me perdoe o Eco, mas a localizada utilização das redundâncias, menos como recursos estilístico e mais como ferramenta retórica, diz respeito apenas uma coisa: que se enfatize: espero, e já não conto com nada).

Anexo desimportante: talvez o argelino chamasse o contar niilista por desesperança. Mas aqui há a política escolha do otimismo.